Marcos, 10 anos de idade, filho de mãe e pai do mundo, filho do mundo, irmãos separados, o sangue é o único laço que os fazem ser uma família. Todos os dias o garoto vende balas, mas não de doces, e sim de drogas, Marcos, um futuro incerto, não só o dele, mas de muitos amigos, infância maioral, puberdade acelerada, destino sem parada. 11 da manhã em pontos de ônibus pedindo um mísero centavo, o que fazer com o dinheiro Marcos? Comprar droga, cola, me divertir com os amigos, comprar bebida. Cadê sua família? Sei o que é isso não moço, eu vivo na rua pedindo dinheiro, o que der deu se num deu eu roubo. E a escola? Num gosto de ler nem de escrever, nem sei em que série eu tou. E onde você dorme? Eu durmo nas praças, calçadas de bancos, nessa esquina, debaixo das pontes, já me acostumei.
Conheci Marcos naturalmente, dentro de um ônibus vazio, estava pensando no mundo nas vésperas de um ato democrático ao qual muitos deveriam dar valor, as eleições se aproximavam, tudo estaria pronto para mudar, propostas de uma sociedade melhor, igualitária, criança na escola, saúde de qualidade. O pequeno garoto magricelo, sujo, não precisou me mostrar nenhum dado estatístico, ele me confirmou em apenas um gesto o que se passava em sua vida. Marcos dormiu no banco ao meu lado no ônibus, faminto, ele delirava, falava o que nem entendia, só queria uma coisa: Comida. Ele não estava só, Luis era um de seus grandes amigos, de rua e de confusões. Os meninos do banco me abriram os olhos mais uma vez. Não basta acreditarmos no que os outros dizem, temos que acreditar no que podemos ver, sentir, quantos Marcos e Luis existem ao nosso lado e nem sequer damos importância?
Sei que nesse exato momento do dia em que você lê meu texto, Marcos e Luis estão em algum lugar mendigando por uma moeda ou fazendo algo errado, o que é bem provável. Eu, mudar o Mundo? Não, quero apenas mudar a realidade dos cegos que não vêem a realidade a qual o seu mundo passa. Que Luis e Marcos possam um dia saber sonhar com um futuro e com uma vida de verdade.
Obs.: Marcos e Luis são nomes fictícios.
Obs.: Marcos e Luis são nomes fictícios.